QUARTA-FEIRA,
21 DE OUTUBRO DE 2009
Luiz Carlos Nogueira
Não se trata de figura do nosso folclore. Isto acontece mesmo, porém em sítio
que deveria ser de absoluta importância no cenário nacional, para o
desenvolvimento e bem-estar do País — ou seja, na esfera dos partidos
políticos, pois estamos assistindo uniões que nada tem em comum de ideologia
política. A única coisa em comum é ganância pelo poder que tudo degenera e
consome.
Gláucio Ary Dillon Soares, em “Alianças e coligações eleitorais: notas
para uma teoria”, publicada na Revista Brasileira de Estudos Políticos, nº 17,
de julho 1964 [Belo Horizonte], em sua análise das coligações para a Câmara
Federal, considerou que:“os partidos com bases classistas não podem coligar-se
impunemente com partidos representantes de classes sociais antagônicas”, já
que:
“tanto para atrair, quanto para manter a atração com relação a
determinada classe social, um partido tem que funcionar como representante
dessa classe. Os desvios dessa função são punidos com a perda de grande parte
do eleitorado” (p. 107).
Não há dúvidas de que existe uma perda de nitidez política-ideológica,
pois os partidos políticos nada refletem nesse campo. O que existe são
cooptações resultantes de interesses nada patrióticos e não menos egoístas.
Então que tipo de filhote nasceria da cruza de lobisomens com as
mulas-sem-cabeça? Um monstrinho ainda inominado, outra espécie de predador? Que
devora dinheiro dos cofres públicos? Que pratica toda sorte de diabruras? Que
cinicamente debocha do eleitor consciente, porque acredita no analfabetismo
político da maioria que o manterá no cargo?
Quem pensa que o Saci-Pererê, o Chupa-Cabra, a Mãe D’Água, etc, vão
gostar desses casamentos (coligações de partidos), está certo, porque todas as
figuras bizarras do nosso folclore, não querem ficar fora de cena, caso contrário
irão fazer birra. Elas fazem qualquer coisa para chamarem para si os holofotes:
vestem peças de roupas extravagantes; dançam freneticamente; fazem gestos de
lutas marciais; pegam criancinhas no colo; cantam; querem cumprimentar todos
não observando que se tratam de manequins (bonecos) de lojas; aceitam
participar de qualquer festa; comparecem em velórios até de quem não conheceram
em vida — fazem tudo para chamar a atenção, não importa o quê. Prometem fazer
chover se está seco; fazer frio se está calor ou fazer calor se estiver frio.
Afinal essas personagens têm poderes sobrenaturais, contra os quais ninguém
está conseguindo neutralizar.
Os bichos que não pertencem ao nosso folclore, mas são da nossa fauna,
como os jacarés por exemplo, para continuarem na lagoa e não terem que nadar de
costas, fazem as pazes com as piranhas. Os bichos mais sagazes montam nos
burros (estes são mal-intencionados, apesar de burros) para atravessarem os
pântanos das suas malícias. Quando os asnos querem empacar, sentam-se-lhes os
ferrões, ou então, colocam pendurados em suas frentes, feixes de capim (ofertas
generosas) que eles tentam baldadamente abocanhar.
Os que assistem aparvalhados, tais cenas, por ficarem extáticos, quando
não babam deixam derreter seus picolés. Se por outro lado estão com um saquinho
de pipocas nas mãos, esquecem-se de comê-las
Agora pensem bem. Alguém duvida de que os jacarés que conseguiram ficar
na lagoa, nadando normalmente, depois não irão comer as piranhas?
De qualquer modo, tanto se os jacarés quanto as piranhas ficassem
tomando conta da lagoa, ninguém mais arriscaria banhar-se nela.
Doravante é preciso valorizar os urubus. Os urubus alimentam-se,
principalmente, de carne de animais mortos (carniça). Porém, quando não
encontram carne de animal morto, caçam pequenos roedores, sapos e lagartos.
Portanto evitam a disseminação de doenças próprias do estado de corrupção.
Essas aves deveriam ser vistas com um grande respeito e deveriam
simbolizar a limpeza, tanto no sentido ecológico quanto no aspecto moral. E
pelo que tenho de informação, são os únicos animais que podem livrar-nos dos
cadáveres ou das carniças, sejam elas de outros animais, de seres humanos que
morreram de lepra, aids, ou de qualquer outra doença contagiosa que não os
afetam. Essas aves não se contaminam. Seus organismos são dotados de uma defesa
orgânica fantástica. Elas deveriam simbolizar os políticos incorruptíveis
(raríssimos – mas existem) e que desempenham bem seus papéis e estão sempre
querendo limpar a área onde atuam.
Melhor ainda para ilustrar este artigo, mostrando as artimanhas
políticas está no resumo de “A Revolução dos Bichos”, clássico do autor Eric
Blair, conhecido pelo pseudônimo de George Orwell:
(extraído da Wikipédia:http://pt.wikipedia.org/wiki/Animal_Farm#cite_note-2),
em cujo livro, o autor narra a história dos animais do galinheiro Solar, que
eram oprimidos de forma totalitária por seu proprietário. Unidos, os bichos
passam a planejar uma espécie de revolução. O sofrimento de anos somado a
idéias libertárias, conduzem os rebeldes até a vitória. Mais tarde, com o poder
devidamente tomado pelos animais, é hora de trabalhar.
Os líderes _ dois porcos _ mostram possuírem divergências ideológicas.
Um deles, justamente o mais truculento, expulsa o companheiro e vence o
imbróglio. A partir de então, a revolução é lastimavelmente deturpada, os
bichos aos poucos voltam a viver penosamente e sob um autoritarismo repulsivo.
Uma das frases do livro exemplifica bem o lema da desvirtuação do movimento
iniciado com as melhores intenções, “todos os animais são iguais, mas alguns
animais são mais iguais do que os outros”.
Com a deposição do maldoso humano, os porcos passam a administrar a
fazenda, compondo uma casta privilegiada. No fim, a magnífica fábula denuncia,
“já não era possível distinguir quem era homem e quem era porco”.
Sentindo chegar sua hora, Major, um velho porco, reúne os animais da
fazenda para compartilhar de um sonho: serem governados por eles próprios, os
animais, sem a submissão e exploração do homem. Ensinou-lhes uma antiga canção,
Animais da Inglaterra (Beasts of England), que resume a filosofia do Animalismo,
exaltando a igualdade entre eles e os tempos prósperos que estavam por vir,
deixando os demais animais extasiados com as possibilidades.
O velho Major faleceu três dias depois, tomando a frente os astutos e
jovens porcos Bola-de-Neve e Napoleão. Após clandestinas reuniões para traçar
as estratégias, Sr. Jones, então proprietário da fazenda, se descuidou na
alimentação dos animais, mal sabendo que este seria o estopim para aqueles
bichos. Deu-se a Revolução.
Sob o comando dos inteligentes e letrados porcos, os animais passaram a
chamar a Quinta Manor de Quinta dos Animais / Granja ou Fazenda
dos Bichos, e aprenderam os Sete Mandamentos, que, a princípio,
ganhava a seguinte forma:
1.Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupas.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool.
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.
Para os animais menos inteligentes, os porcos resumiram os mandamentos apenas
na máxima "Quatro pernas bom, duas pernas ruim" que passou a ser
repetido constantemente pelas ovelhas. Após a primeira invasão dos humanos, na
tentativa frustrada de retomar a fazenda, Bola-de-Neve luta bravamente, dedica
todo o seu tempo ao aprimoramento da fazenda e da qualidade de vida de todos,
mas, mesmo assim, Napoleão o expulsa do território, alegando sérias acusações
contra o antigo companheiro. Acusações estas que se prolongam por toda
história, mesmo após o desaparecimento de Bola-de-Neve, na tentativa de
encobrir algo ou mesmo ter alguma explicação para os animais para catástrofes,
criando-se um mito em torno do porco que, a partir daí, é considerado um
traidor.
Napoleão se apossa da idéia de Bola-de-Neve de construir um moinho de vento
para a geração de energia, mesmo havendo feito duras críticas à imaginação do
companheiro, e inicia a sua construção. Algum tempo depois, os porcos começam a
negociar com os agricultores da região, recusando a existência de uma resolução
de não contactar com os humanos, apontando essa idéia como mais uma invenção de
Bola-de-Neve. Os porcos passam ainda a viver na antiga casa de Sr. Jones e
começam a modificar os mandamentos que estavam na porta do celeiro:
4. Nenhum animal dormirá em cama com lençóis.
5. Nenhum animal beberá álcool em excesso.
6. Nenhum animal matará outro animal sem motivo.
7. Todos os animais são iguais mas alguns são mais que outros.
O hino da Revolução é banido, já que a sociedade ideal descrita, segundo
Napoleão já teria sido atingida sob o seu comando. Napoleão é declarado líder
por unanimidade. As condições de trabalho se degradam, os animais recebem novo
ataque humano e já não se lembram se na época em que estavam submissos ao Sr.
Jones era mesmo pior, mas se lembravam da liberdade proclamada, e eram sempre
lembrados por sábios discursos suínos, principalmente os proferidos por
Garganta, um porco com especial capacidade persuasiva. Napoleão, os outros
porcos e os agricultores da vizinhança celebram, em conjunto, a produtividade
da Quinta (no Brasil, o vocábulo "Quinta" é o mesmo que
"Granja") dos Animais. Os outros animais trabalham arduamente em
troca de míseras rações. O que se assiste é um arremedo grotesco da sociedade humana.
O slogan das ovelhas fora modificado ligeiramente, “Quatro pernas bom, duas
pernas melhor!”, pois agora os porcos andavam sobre as duas patas traseiras. No
final, os animais, ao olhar para dentro de casa, já não conseguem distinguir os
porcos dos homens.
Por conseguinte, pergunto: que respeito merece os políticos fichas-sujas, de
índole do tipo Lobisomem, Mula-Sem-Cabeça, Saci-Pererê, Chupa-Cabra, e do tipo
Mãe D’Água que produzem encantamento com os seus cantos de espertos, para os
quais os fins justificam os meios? E as Instituições das quais fazem parte,
como é que ficam? Desmoralizadas?
Os eleitores que sabem pensar, não acreditam nesses farsantes.
Esse tipo de gente acha que não vai manchar sua biografia, porém os internautas
sabem que tudo está registrado na rede mundial de computadores (World Wide
Web). Não tem mais jeito de apagar as sujeiras — ninguém mais vai posar de
anjo, se na verdade for o diabo.
Apesar de tudo, tenho a esperança que o povo brasileiro acorde já nas próximas
eleições em 2010, votando em candidatos de mãos limpas. É preciso dar um basta
na ditadura dos Partidos e dos políticos envoltos nas embalagens criadas pelo
marketing. Tenho a esperança de que haveremos de não ter mais que pagar pelas
farras dos sem princípios éticos.