quinta-feira, 28 de abril de 2011

A dança do “pudê”

28/04/2011 - 07h00


“Freire já viu o mesmo filme algumas vezes. É a atração pelo ‘pudê’, a forma como boa parte dos adesistas costuma se referir ao poder, com a intimidade que a aproximação contínua lhes reserva”


O atual ocaso das oposições brasileiras tem sido tema frequente da coluna nos últimos tempos. É que realmente salta aos olhos a forma como o DEM desmancha-se, como o PSDB patina, como o PV não se entende e como o PSD engorda na sua tática adesista. O que acontece? Como explicar?



Fui buscar socorro para esta tarefa no presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (SP). Independentemente do que se ache de Freire, há um fato incontestável: ao longo de uma carreira política de quase 40 anos, ele só esteve ao lado do governo com Itamar Franco, de quem foi líder, e por alguns poucos meses no início da era Lula. Ou seja, nem que seja pela vasta experiência acumulada, Freire é expert quando se fala em oposição.


O PPS, partido presidido por Freire, é filho do PCB, que tinha a alcunha de “partidão”. Com o fim do modelo soviético de socialismo, que seguia, Freire propôs a reformulação que deu no PPS: a mudança para a defesa de um socialismo democrático, e não do antigo formato comunista. Daquelas discussões, restou para quem se opôs à revisão proposta um PCB, que ainda existe fiel às ideias originais, e o PPS. Com a nova sigla, o partido chegou a sentir em determinado momento das eleições de 2002 uma chance de chegar ao poder, com Ciro Gomes. Mas a língua indisciplinada e o temperamento irritadiço de Ciro acabaram por deixá-lo pelo caminho. Mais tarde, Ciro acabou deixando o PPS pelo PSB, quando o partido de Freire resolveu romper com o governo. Hoje, com seus 12 deputados, o PPS pode ser chamado de tudo, menos de “partidão”. Padece das mesmas dificuldades que atingem as demais legendas de oposição.



Ao longo do tempo em que exerce a política no Congresso (seu primeiro mandato foi em 1972), Freire já viu o mesmo filme de hoje algumas vezes. É a atração pelo “pudê”, a forma como boa parte dos adesistas costuma se referir ao poder, com a intimidade que a aproximação contínua lhes reserva. “Está se dando importância maior do que se deveria à natural dança dos políticos, esse adesismo que tem sido uma praga da política brasileira desde sempre”, diz Roberto Freire.



Num país em que a maior parte dos partidos não tem ideologia definida, são meros ajuntamentos de conveniências políticas, a atração pelo poder torna-se mais fácil. Porque fica mais fácil adaptar-se ao discurso do momento. Da mesma forma, os governos passaram a entender que a única forma possível de governar consiste em abrigar o apoio dessas maiorias de conveniência. E adotam, com maior ou menor grau, uma posição de centro que facilite esse adesismo. “Assim”, diz Freire, “as coisas estão longe de serem maniqueístas como o discurso do governo às vezes apresenta: não é verdade que as forças progressistas estão com eles e as forças conservadoras contra eles”.



Assim, lembra Freire, há do lado do governo do PT até o PP, o partido filho da Arena e do PDS, as legendas que apoiaram a ditadura militar. E, na oposição, há o DEM, mas há também o Psol, de extrema esquerda, e o PPS, que Freire situa no campo da esquerda. Por isso, diz Freire, as notícias sobre eventuais fusões de partidos que hoje estão na oposição para que tentem, juntos, se robustecerem, devem ser vistas com reservas. “Isso é um mito que o governo espalha. É preciso que haja identidade para que partidos se unam e virem um só. Eu até posso fazer eventuais alianças eleitorais com o DEM, mas não tenho qualquer afinidade ideológica com eles para que nos filiemos ao mesmo partido e passemos a conviver eternamente”, avalia Freire.



Para quem não se importa com essas filigranas ideológicas, uma união de qualquer jeito só faz sentido se for para aproximá-lo do poder. Daí o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. “É a dança do poder. Agora, o ritmo da dança pode mudar a qualquer momento, e é incrível que não se avalie isso”, diz o presidente do PPS.

O primeiro problema é que a adesão gera no adesista uma expectativa de usufruir das benesses do poder: cargos, verbas, etc. E esse capital, por parte do governo, é limitado. “Vai faltar soro fisiológico pra todo mundo”, brinca Freire. Especialmente com a perspectiva da volta da inflação. Para contê-la, Dilma tem de cortar o orçamento, segurar verbas, gastar menos. Vai se dissipando o “soro fisiológico”. Se a coisa for se agravando, e a economia sair do controle, muda a dança. “Se a inflação recrudescer, não tem como não crescer na sociedade um sentimento oposicionista”, analisa Freire. Foi assim que Fernando Henrique Cardoso foi perdendo apoio no seu segundo mandato, até se tornar incapaz de fazer seu sucessor, levando José Serra a perder em 2002 a eleição para Lula. Assim, diante de uma nova perspectiva, muda a música do poder. “E os adesistas dançam conforme a música”, lembra Roberto Freire.



Muito barulho por nada


A coluna já estava pronta quando o STF resolveu que, em caso de vacância do deputado titular, assume em seu lugar o suplente mais votado da coligação que o elegeu. Ou seja, o Supremo resolveu o que já está resolvido há quatro décadas!



Por quê? Porque, em dezembro, os mesmos ministros resolveram inventar e tomaram a decisão de que, ao contrário do que vinha sendo sempre feito, quem tinha de tomar posse era o mais votado do partido. Quer dizer: se permitiria coligação na eleição e, depois, na hora da troca, a coligação ia deixar de existir.



A Câmara resistiu ao absurdo e vinha enrolando para cumprir a decisão de dezembro. Ela faria com que 49 deputados que tomaram posse fossem destronados para que outros entrassem no lugar. Mais absurdo ainda: havia casos em que ninguém mais do partido do titular tinha sido eleito na coligação. Então, senhores ministros do STF: quem é que ia tomar posse nesses casos?



No meio disso tudo, o ministro Marco Aurélio Mello, do alto da sua toga, chegou a protestar contra a desobediência de Marco Maia em cumprir a decisão de dezembro. E se Marco Maia tivesse cumprido a decisão? Teria trocado 49 deputados e, agora, diante da nova decisão do STF, ia ter que trocar todo mundo de novo?

Os ministros do STF agem como se fossem infalíveis, deuses no Olimpo instalado na Praça dos Três Poderes. Com exceção do próprio Marco Aurélio, todos os que tinham votado pela posse do suplente do partido em dezembro, mudaram agora de ideia. Tudo o que eles julgam e decidem, é claro, provoca repercussões imensas.



Eu, se fosse ministro do STF, hoje estaria morto de vergonha da confusão criada. Por nada.

*É o editor-executivo do Congresso em Foco. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília em 1986, Rudolfo Lago atua como jornalista especializado em política desde 1987. Com passagens pelos principais jornais e revistas do país, foi editor de Política do jornal Correio Braziliense, editor-assistente da revista Veja e editor especial da revista IstoÉ, entre outras funções. Vencedor de quatro prêmios de jornalismo, incluindo o Prêmio Esso, em 2000, com equipe do Correio Braziliense, pela série de reportagens que resultaram na cassação do senador Luiz Estevão

FONTE: CONGRESSO EM FOCO – CLIQUE AQUI PARA CONFERIR


quarta-feira, 27 de abril de 2011

O autoritarismo e as teses canhestras de Requião sobre o jornalismo


O senador Roberto Requião (PMDB-PR) protagonizou um episódio deplorável na tarde de segunda-feira (25). Durante entrevista ao repórter Victor Boyadjian, da rádio Bandeirantes, na qual falava sobre a inflação, Requião foi questionado três vezes seguidas pelo jornalista se, para reduzir as despesas públicas, abriria mão da aposentadoria vitalícia de R$ 24.117,62 que recebe como ex-governador do Paraná. Após a terceira pergunta, Requião simplesmente tomou o gravador das mãos do jornalista. O diálogo é o que se segue:

Boyadjian: – Não, calma, não estou mais gravando!
Requião: – Já pensou em apanhar, rapaz? Já pensou em apanhar?
Boyadjian: – Não, peraí, deixa eu desligar…
Requião: – Não vai mais desligar porra nenhuma. Vou ficar com isso aqui.

Após a inusitada situação de ver um senador da República se apropriar de seu gravador, o repórter procurou registrar queixa, mas não conseguiu, como conta o Congresso em Foco:

A denúncia de violação por parte de Requião não encontrou respaldo no Senado. A Polícia Legislativa do Senado disse que está impedida de formalizar denúncia contra o parlamentar, alegando ser esta uma atribuição da corregedoria da Casa, como define a resolução número 17/93 da Mesa Diretora. O detalhe é que a corregedoria, que teoricamente é responsável por apurar desvios de senadores, está desativada desde outubro.

Depois disso, o show de Requião se transformou em uma mistura de autoritarismo e desconhecimento sobre o funcionamento de uma imprensa livre. Após a repercussão do fato, Requião devolveu o gravador ao jornalista, mas sem o cartão de memória onde estava a entrevista concedida por ele e as outras feitas pelo repórter. Em sua conta no Twitter, o senador afirmou que iria deletar o arquivo. Em seguida, conta o G1, Requião escalou o filho para devolver o cartão, e postou o áudio na internet.

O filho do senador, Maurício Tadeu, foi o responsável por entregar o cartão e responder às perguntas dos jornalistas no gabinete de Requião. Perguntado sobre o motivo pelo qual o próprio Requião não fez a devolução, o filho do senador disse que não era responsável pelo gabinete do pai. “Não respondo pelo gabinete. Vim ‘de boa’ devolver o cartão de memória para o jornalista. O senador não se encontra. Ele já saiu”, afirmou Tadeu.

No Twitter, Requião desenvolveu teses canhestras sobre a atividade da imprensa. Ao divulgar o áudio, disse que no link estava a entrevista que ele “não quis que a Band divulgasse”. Ora, se não queria uma entrevista sua divulgada, o senador não deveria ter concedido a entrevista. Se achou que foi provocado, poderia simplesmente se recusar a responder uma pergunta, direito reservado a ele e a qualquer outro brasileiro. Se, após concedida a entrevista, não queria que ela fosse divulgada, Requião praticou censura. O fato de divulgar o áudio depois de toda a repercussão não muda o fato de que ele se apropriou de uma entrevista que pertencia à rádio Bandeirantes (e não a ele próprio, como alega Requião), impedindo a emissora de divulgá-la.

O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal prometeu entrar com um processo por quebra de decoro parlamentar contra Requião. Resta saber se o corporativismo e a ineficiência do Senado vão se sobrepor à obrigação desta instituição em defender o livre trabalho da imprensa.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Lidando com a Vida

Com essas palavras o advogado Antônio de Araújo Chaves, inicia o seu livro “Lidando com a Vida”, editado e impresso pela Gráfica e Editora Brasília Ltda, Campo Grande (MS), 2009.

“Quando me lembro que não somos capazes de entender a dimensão do Universo, nem a noção de infinito; quando me dou conta de que a existência do ser humano é tão breve quanto insignificante perante o Cosmo; ou que não temos a certeza nem da origem do planeta que habitamos, ou dos riscos de desaparecimento que ele corre; ou ainda, quando noto que o destino da humanidade e de toda e espécie de vida na Terra está à mercê de forças incontroláveis da Natureza; enfim, quando fatos dessa ordem emergem à minha lembrança, percebo o quanto é ridícula e sem sentido a arrogância humana e fico alarmado vendo espertalhões de toda cepa fundarem negócios para explorar a ignorância coletiva.

Ante o enigma da vida o homem deveria ocupar-se exclusivamente de ser feliz, porque depois de sua brevíssima existência, dele nada restará. A Natureza e a espécie humana não sentirão a sua falta.”

Conheço um pouco da trajetória de vida do Chaves, que nasceu em Nioaque (MS), no dia 11 de maio de 1.939, e que iniciou sua carreira de advogado em 1968, quando instalou seu escritório em Aquidauana (MS). Eu ainda era estudante secundário e tive a oportunidade de assistir um júri do qual participou brilhantemente como advogado de defesa. Interrompeu sua carreira em 1970, por questões políticas, retornando em 1973 na cidade de Campo Grande (MS), conforme narrou nesse livro, que pelo fato de conter pensamentos filosóficos profundos, assim como referências às religiões de um modo geral, optei por postar este seu pensamento e comentários, nos meus blogs: “Religião, Misticismo, Ordens Iniciáticas & Outros” e “Políticos, Partidos Políticos e Ideologias”.

Vejo esse seu livro como um libelo contra o nosso sistema social no qual se inserem os poderes constituídos. Registra suas memórias, confessa “mea culpa”, mostrando que ainda aprende visando colar grau como mestre da sua própria vida.

Embora eu não seja ateu por convicção íntima, não faço julgamento da sua posição como tal, porque o autor é uma pessoa respeitável por conta de suas muitas virtudes. Também por acreditar que o Homem ainda não tenha encontrado (e talvez nunca encontrará) um sistema político e de governo ideal, que funcione dentro dos primados e das aspirações de justiça igualitária, de liberdade e fraternidade, voltadas para o ser humano e para o bem comum, não tenho as mesmas simpatias pelas doutrinas marxistas a que se refere, assim como as anarquistas que outros apregoam, por não acreditar que sejam as indicadas.

A habilidade do autor no manejo das palavras, não permite que esse livro seja de leitura cansativa ou enfadonha, tanto que o li em dois tempos. De tal sorte, destaco o seguinte trecho da sua obra, que constitui um J’accuse (Eu acuso) como no artigo redigido por Émile Zola quando do caso Dreyfus e publicado no jornal L'Aurore do 13 de janeiro de 1898 sob a forma de uma carta ao presidente da República Francesa:

“Consterna-me observar que por culpa de gerações precedentes e principalmente por omissão das autoridades públicas, a juventude de hoje, principalmente a urbana, acha-se atordoada e sem rumo.

Salvo alguns poucos jovens que adquirem conhecimentos técnicos específicos e elevados e por isso ocupam espaços no setor empresarial, na pesquisa científica, no trabalho intelectual e no setor público de alto nível ou no esporte, a grande massa dos jovens de hoje é constituída de seres alienados, apáticos, ignorantes que vivem à deriva, na marginalidade, sem qualquer projeto de realização pessoal e por essa razão muitos deles envolvem-se com a criminalidade ou com a prática de atos anti-sociais. Esse envolvimento ocorre até com alguns jovens que estudaram e tem algum emprego mas foram criados sem senso de responsabilidade.

São jovens alienados, com pensamentos homogêneos, massificados em quase tudo, isto é, gostam do mesmo gênero musical; têm os mesmos ídolos ou pelo menos ídolos com o mesmo perfil social; as mesmas preferências quanto ao vestuário; gostam de tudo que seja eletrônico e digital; em geral são agressivos; curtem as mesmas diversões noturnas; em regra consomem alguma espécie de droga; aliviam suas tensões e inconseqüentes revoltas destruindo bens públicos e privados e nunca se articulam para uma ação socialmente valiosa ou positiva. São inseguros, vivem agrupados ou em bandos porque não agüentam olhar para si mesmos. No bando, eles confortam, se apaziguam ante a homogeneidade das suas desgraças e da pobreza moral da qual eles têm relativa consciência.

Essa funesta deterioração social que parece não incomodar a maioria das pessoas, especialmente os educadores, vem ocorrendo ao longo de muito tempo e se ampliando numa progressão aritmética preocupante. Cada geração que segue a outra aprofunda essa massificação, despreza mais fortemente a cidadania e dela se afasta cada vez mai. Seguramente, esse fenômeno social requer a atenção do Estado por via das suas instituições educacionais, coisa, entretanto, que parece longe de acontecer.

Na outra ponta desta mesma sociedade e igualmente exigindo a atenção do Estado encontra-se a legião dos desprovidos de educação escolar e social, dos sem moradia, dos desempregados, enfim, de todos aquele que não têm meios para promoverem a sua ascenção social sem auxílio do Poder Público e às vezes nem com este auxílio.

Embora as reivindicações sócias destas hordas de indivíduos feitas às autoridades públicas sejam justas e legítimas, os meios violentos e irracionais por elas utilizados, mercê das orientações políticas e operacionais que recebem das suas lideranças visíveis e camufladas, induzem-nos a acreditar que elas na verdade pleiteiam, com vaga consciência, a desagregação social e a anarquia.

Aqui, o afrouxamento moral ocorrido na infância dos integrantes dessas hordas é seguramente o deflagrador das barbáries, das suas ações desnecessariamente predadoras. A essas hordas que se denominam de sem terra, sem teto, índio, etc., se juntam aventureiros de toda espécie. Na luta pela qual se dizem empenhadas, essas hordas desprezam o apoio da sociedade que inclusive afrontam ao cercearem direitos primários do cidadão como o da livre circulação, compelidas pelos seus ódios irreprimíveis e pela falta de discernimento.”

Seguindo adiante o autor fala que “O Poder Judiciário no Brasil vem erodindo velozmente com o tempo, embora seja verdade que foi o último dos três Poderes da República a se conspurcar. Mas hoje, a gravidade da endemia que contaminou o coloca em pé de igualdade com o Executivo e o Legislativo, tanto na corrupção quanto nas distorções de toda natureza.”

Reclama, por conseguinte, com a sua experiência de 40 anos de militância como advogado, ser necessário que se promova um reforma profunda e estrutural do Poder Judiciário, assim como das arcaicas normas de regência processual e de organização judiciária que são responsáveis em parte por sua ineficiência, atribuindo responsabilidades mais claras e diretas para os que o integram, porque esse Poder é o último instrumento, na ordem constitucional de defesa dos direitos do cidadão, tendo, portanto, que ser confiável e gozar de respeito da sociedade, sob pena de não justificar a sua existência.

O autor discorre também sobre os Partidos Políticos e os Políticos, que já não gozam da confiança do eleitor, dada a corrupção que grassa nesse meio. Fala da falta e da necessidade das políticas públicas e que na década de 60 os estudantes assumiam responsabilidades políticas e sociais no país, lutando pelos interesses coletivos e que hoje não mais atuam politicamente organizados, agindo, porém, como predadores indisciplinado e agressivos, sem nenhuma preocupação com o bom funcionamento das instituições as quais até depredam seguros da impunidade.

Outros crimes que estão se tornando corriqueiros, como por exemplo, acontecem com as invasões de terras de propriedade privadas (rurais e urbanas) e de repartições públicas, porquanto as autoridades são lenientes e indulgentes. O desrespeito para com as leis por meia dúzia de sem-terra, de sem-této ou de índios, se deve à apatia e até pela cumplicidade das autoridades públicas.

O autor confessa ser refratário às religiões, porquanto pregam uma coisa e fazem outra.

Assim é que o livro do Dr. Antônio de Araújo Chaves é um convite para uma boa leitura e indicado para servir de motivo para reflexão.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Nacionalismo e socialismo não combinam. O nazismo tentou combinar. Deu no que deu

Por Marcelo Delfino

Já vi muita bobagem escrita sobre o nazismo. A maior delas é a de que o nazismo era ao mesmo tempo nacionalista e socialista. Eu mesmo pensava que o regime nazista da Alemanha era socialista. Então vamos consertar juntos essa bagaça.


O nazismo não pode ser considerado um regime socialista, nem comunista. Não pode ser considerado comunista um Governo que permite a propriedade privada dos meios de produção. O nazismo era capitalista. Também não era socialista porque só quem mandava na Alemanha eram o Governo (Hitler, suas pessoas de confiança, mais os membros do Partido Nazista encastelados na máquina estatal) e os empresários fiéis ao regime. Os trabalhadores comuns estavam completamente afastados do poder.


O nazismo era um regime de extrema direita. Não tolerava dissidências, muito menos oposição.


O nazismo também não pode sequer ser considerado nacionalista, pois desprezava os conceitos da nacionalidade alemã. Só exaltava o conceito de raça ariana, teoricamente superior às demais e que deveria governar a Alemanha e, por tabela, os países sob influência desta. Mesmo os símbolos da antiga nacionalidade alemã foram suprimidos. A primeira providência de Hitler ao chegar ao seu gabinete de líder máximo do país foi mandar trocar todas as bandeiras da Alemanha pela bandeira do nazismo, aquela de três cores (vermelho, preto e branco) com a suástica no meio.


Há quem considere o nazismo alemão um regime nacionalista só porque procurava expandir territorialmente a Alemanha, por meio de anexações de outros países. Ora bolas. Isso não é nacionalismo. É expansionismo. O nacionalismo de verdade procura preservar o que é próprio da Nação e respeita as outras nações e países. É o mesmo motivo pelo qual quase nenhum governo da história americana pode ser considerado nacionalista (talvez só o do pioneiro George Washington, o da Independência), pois alguns foram expansionistas e quase todos foram governos imperialistas, assim como é o atual governo Obama.


O nazismo procurava juntar duas coisas inconciliáveis: o nacionalismo e o socialismo (nacionalismo+socialismo = nazismo). O socialismo é internacionalista por natureza. Vide a preocupação de qualquer governo socialista em querer ajudar “os povos de países mais pobres”, muitas vezes sem sequer ajudar plenamente a população do próprio país. O socialismo do nazismo era só discurso para ter o apoio dos “trabalhadores alemães pobres”, e somente os alemães. Desde que não fossem judeus, claro.


O nazismo não pode ser considerado um regime liberal. Pelo contrário: era um regime estatista. Só prosperavam os negócios privados autorizados pelo Estado. A famosa Volkswagen prosperou a partir do momento que teve apoio oficial do Governo, que queria que houvesse uma fábrica que fizesse carros mais baratos, "carros para o povo" (volks wagen é uma expressão em alemão, que significa "carros para o povo"). É evidente que os negócios ligados à indústria armamentista prosperaram a partir do momento em que o Governo começou a declarar guerra a um monte de países. Empresas que antes faziam outros artigos passaram a fabricar armas para o Governo. Oskar Schindler fabricava utensílios esmaltados, antes de começar a fabricar artigos para as Forças Armadas da Alemanha. Obviamente, empreendimentos de judeus eram proibidos.


Os governos de Charles de Gaulle eram de direita, mas não extremistas. Foram governos capitalistas, direitistas e estatistas ao mesmo tempo.


Já o atual governo da China é um exemplo de governo de extrema esquerda (porque reprime qualquer dissidência ou discordância), socialista (o partido único manda muito no Governo: se quer ter alguma influência no Governo, filie-se ao Partido), capitalista e estatista: só prosperam os negócios privados enquadrados no planejamento do Governo, inclusive os negócios dos empresários chineses filiados ao Partido Comunista. O próprio nome Partido Comunista é uma pálida lembrança de um partido que ainda é de esquerda, mas deixou o comunismo faz tempo.


Empresários que querem ficar cada vez mais ricos não tem que ser necessariamente direitistas, liberais ou neoliberais. Eles apóiam o regime que permitir que eles fiquem mais ricos. Os empresários chineses, por exemplo. Boa parte é esquerdista e estatista. Só que não comunistas, porque o comunismo lhes tomaria os meios de produção. E boa parte dos empresários da Venezuela são "socialistas bolivarianos", nas palavrar do próprio Hugo Chávez. Os regimes ajudam esses capitalistas chineses e venezuelanos...

Fonte: Blog do Marcelo Delfino– Clique aqui para conferir