sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O MEDO DE INTERVIR - Por HUMBERTO PINHO DA SILVA



 








No lV Congresso Português de Sociologia, realizado em Coimbra, no ano de 2000, o sociólogo Manuel Villaverde, apresentou na sessão sobre: “ Democracia e Esfera Publica”, tese que abordava o medo que a população portuguesa mostra perante os governantes.


O receio, tolhe, em muitos cidadãos o direito, e até o dever, de cidadania.


Poucos se aventuram assinar uma petição, opinar em recinto público, e terem pareceres sobre os mais diversos temas.


Se assim era no início do século, o mesmo receio mantém-se atualmente.


Há quem queira responsabilizar Salazar e o Estado Novo, por essa postura, lembrando que quarenta anos, sem democracia plena, gerou o medo de intervir e contestar, seja o que for.


Porém conheci quem viveu na 1ª Republica e se inibisse, por isso, de tomar decisões. Tinham medo até de serem cristãos, lembrando-se dos crentes que foram selvaticamente agredidos, quando oravam na igreja dos Congregados, no Porto. Recordavam-se da conferência do Dr. António Granjo, em que este teve que fugir, depois da Carbonária ter espancado a assistência; e da destruição dos jornais: “ A Ressurreição”, “ Diário do Porto”, “Jornal de Notícias”,” O Liberal”, “ O Correio da Manhã”, “ “ Diário Ilustrado”, “ “ A Palavra”, entre outros.


Esses velhos, que conheci, contavam que era melhor ficar em silêncio. Porque, como diz, António Manuel Pereira em “ Do Marquês de Pombal ao Dr. Salazar” - Edição de Manuel Barreira: “ Se alguém pretendia reagir, era certo e sabido que, poucos depois, sentia dolorosamente a prostituição da “ Fraternidade”, através de uns “ beijos de Mãe”, repenicados nas costelas, a golpes de cavalo-marinho, de que andavam permanentemente munidos os filiados na famosa quadrilha conhecida por “Formiga-branca”, filha direta de outra não menos perigosa a “Carbonária”.


Como se vê, a democracia, sempre andou arreada da nossa sociedade; mesmo em tempos de monarquia. Na época dos liberais confundiu-se com bandalheira, e no absolutismo, nem é bom recordar.


Por isso, é natural que o cidadão tenha medo, e se refugie no anonimato.


Fora os ambiciosos, os que buscam lugares cimeiros, e vendem, quantas vezes, a alma a troco de punhado de oiro, o cidadão honesto, foge da política e receia defender seja o que for. Foi assim no Estado Novo e assim é na 3ª República.


Na política como no desporto, não deve haver inimigos. Todos têm o alienável direito de expor pareceres publicamente. Mas tem a obrigação de ouvir e respeitar a opinião alheia, mesmo que discorde completamente.


Se inibirmos o jornalista, o professor, o intelectual, de escrever o que pensa, receoso de ser desfeiteado na praça pública ou insultado na Internet, estamos a comportarmo-nos como o pior dos ditadores. Eu sei, que muitos democratas, não passam de temíveis tiranos camuflados em pele de cordeiro.


Ao ameaçarmos o jornalista com o tribunal ou ao usarmos grupo de pressão, para que seja despedido, estamos a ser pior que o mais severo censor.


Vilarandelo de Morais era diretor de semanário gaiense. Certa ocasião disse-me que tinha mais receio da justiça, do que da antiga censura. Porque esta usava o lápis azul, e em regra, nada mais acontecia. Atualmente ser responsável por periódico é andar com o credo na boca, no receio de ser levado ao juiz e condenado a indemnizar o que o jornal não tem, nem pode pagar.


Por isso, só mass-media, apoiada por fortes grupos económicos, é que se pode dar ao luxo de relatar a verdade nua e crua.


Esta crónica já vai longa, e o espaço escasseia. Apenas quero lembrar que não é democrático o parlamento, em que se insulta, ofende e insinua-se maldosamente. É que os brados apagam o diálogo construtivo, próprio de gente civilizada.


Pode-se discordar, pode-se apontar erros, pode-se criticar, mas quando se cai no insulto, no ultraje, estamos a destruir o que existe de melhor na política: que é o respeito, o direito de todos poderem expor ideias, livres de qualquer censura.


E os parlamentares que esquecem as elementares regras de civilidade, estão a transmitir, à sociedade, imagens de violência e degradação, que forçosamente refletem-se na vida quotidiana de cada um.



HUMBERTO PINHO DA SILVA   -   Porto, Portugal



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O 'príncipe dos sociólogos' e futuro membro da ABL ganha o título de 'príncipe da privataria' - Por Marcelo Delfino

A coleção História Agora da Geração Editorial está se tornando pródiga em publicar bons livros sobre política nacional e internacional. Essa coleção já tinha publicado títulos fundamentais como A Privataria Tucana (livro de Amaury Ribeiro Jr. sobre as privatizações da Era FHC) eSegredos do Conclave (livro de Gerson Camarotti sobre a eleição do Papa Francisco e as ações do Vaticano para interromper a saída de (in)fiéis da Igreja na América Latina). Eis que ontem a editora mandou para as livrarias seu mais recente volume da coleção História AgoraO Príncipe da Privataria, do mesmo Palmério Dória que há anos atrás escreveu para a mesma editora (mas não para a coleção) Honoráveis Bandidos, a respeito da saga do clã Sarney. EsteO Príncipe da Privataria renova na coleção o tema das privatizações da Era FHC e traz novas acusações de compra de votos de parlamentares para a aprovação da emenda constitucional da reeleição, que possibilitou ao próprio presidente FHC concorrer a um segundo mandato consecutivo logo depois, em 1998.


Ainda nem acabei de ler todos os livros que tenho aqui e lá vou eu correr atrás deste O Príncipe da Privataria. Um dos que estão na fila sem sequer ter sido iniciado é o livro do Camarotti, já citado aqui. Aliás, ninguém pode dizer que esta coleção História Agora é parcial. Ela é plural. Tem tanto os livros do Amaury (do grupo Record-IURD) e do Palmério como o livro do Camarotti, o homem da Globo News que deu para todo o mundo o furo de reportagem da eleição do Papa Francisco. O Príncipe da Privataria irá se juntar ao Segredos do Conclave na fila. Tomara que não por muito tempo.