segunda-feira, 15 de março de 2010

The Big Brother

Luiz Carlos Nogueira
nogueirablog@gmail.com



Embora seja possível ter alguma conotação, este artigo não trata do programa do Big Brother Brasil da Rede Globo de Televisão. Mas por outro lado servirá para que a Imprensa e os jornalistas coloquem suas barbas de molho, pois há quem sob pretensa defesa dos direitos humanos, quer mesmo é a lei das mordaças como meio de dominação.


Pois bem, “The Big Brother” (O Grande Irmão), um ser dominador que ninguém conhece pessoalmente, símbolo do totalitarismo extremo, é personagem da obra “l984”, de George Orwell, cujo governo situa-se na Oceania, um país em guerra com a Eurásia.

Winston Smith, um funcionário que trabalha no órgão de manipulação de notícias, apaixonou-se e está de romance com Júlia que não concorda com o regime e o contesta, mesmo sabendo que a sua atitude é considerada crime gravíssimo. Ela desconfia que a guerra contra a Eurásia constitui uma grande farsa, é uma forma de desviar as atenções da população, dos problemas cruciais existentes sob aquele governo despótico.

A obra descreve com muita propriedade, como um governo totalitário pode deixar um povo alienado e oprimido, para que se mantenha indefinidamente no poder, sem se importar com a condição humana do seu povo.

Todo governo totalitário constrói à sua volta, grupos de influência e controle social, para incutir nas mentes das pessoas, uma forma de sentir, pensar e agir, de sorte a viverem como se estivessem anestesiadas e achando que tudo tem que ser exatamente como lhes estão sendo imposto. Cria-se, assim, não é demais repetir, cidadãos (se é que isso é ser cidadão) alienados e oprimidos.

Nessa obra, Orwell mostra que não há políticas sociais do governo do BB. Ao contrário, existem políticas de dominação social, o que é bem diferente. O “Partido”, que na verdade é mera dissimulação do totalitarismo, através dos seus “Ministérios”, é o que direciona as ações para a difusão dos papéis sociais e os deveres da população para com o sistema.

Esses “Ministérios” exercem extremado papel de controladores sociais, criando no inconsciente coletivo, através do programa “Dois minutos e ódio” em que “o inimigo do povo”, que na verdade significa os que questionam o regime. Por exemplo:

O Ministério da Verdade (Miniver em Novilígua), está incumbido de manipular as notícias de forma fraudulenta, para que as pessoas fiquem sabendo e acreditem somente naquilo que lhes forem permitido.

O Ministério da Paz (Minipaz em Novilíngua), tem por objetivo promover a guerra, para solucionar os problemas de desemprego no país.

O Ministério da Fartura (Minifarto em Novilingua), tem por obrigação alterar as estatísticas, para esconder as baixas produtividades e a escassez de alimentos.

Por fim, o Ministério do Amor (Minamo em Noviligua), que se ocupa da lei e da ordem, na verdade reprime o sexo e estimula o ódio.

Os 3 lemas do “Partido” são: “Guerra é Paz”, “Liberdade é Escravidão”, “Ignorância é Força”.

As ações exercidas sobre a população, esteriotipadas nos conceitos e nos 3 lemas do “Partido”, são para atingi-la culturalmente mas de forma negativa, além de estimular o culto ao Grande Irmão, cuja foto está exposta em painéis de grandes dimensões, espalhados por todos os cantos e contendo a frase: O Grande Irmão Zela por Ti. Para essas ações estão instaladas as teletelas, que transmitem as mensagens e lições diárias dos “Ministérios”, que ensinam até educação física.

A filosofia Ingsoc, que tem a missão de iniciar a população na “Novilíngua”, ou seja, a língua oficial do regime, que suprime, altera e cria palavras que influenciam a comunicação das pessoas. Por exemplo, se for retirada a palavra “liberdade” dos dicionários, todos se esquecerão dela e as gerações futuras sequer a mencionarão. Não será possível a comunicação das pessoas para lutarem pela liberdade.

Isso é traduzido num dialógo entre o personagem Syme e Winston:

“- Não vês que todo o objetivo da Novilíngua é estreitar a gama do pensamento? No fim, tornaremos a crimidéia literalmente impossível, porque não haverá palavras para expressá-la. Todos os conceitos necessários serão expressos exatamente por uma palavra, de sentido rigidamente definido, e cada significado subsidiário eliminado, esquecido. Já, na Décima Primeira Edição, não estamos longe disso. Mas o processo continuará muito tempo depois de estarmos mortos. Cada ano, menos e menos palavras, e a gama da consciência sempre um pouco menor. Naturalmente, mesmo em nosso tempo, não há motivo nem desculpa para cometer uma crimidéia. É apenas uma questão de disciplina, controle da realidade. Mas no futuro não será preciso nem isso. A Revolução se completará quando a língua for perfeita. Novilíngua é Ingsoc e Ingsoc é Novilíngua, - agregou com uma espécie de satisfação mística. - Nunca te ocorreu, Winston, que por volta do ano de 2050, o mais tardar, não viverá um único ser humano capaz de compreender esta nossa palestra?”

Assim, outro trecho do livro merece destaque para que se tenham ideia mais clara do que a Novilíngua faz:

“[...]Atualmente, na Oceania, a ciência quase cessou de existir, no sentido antigo.

Em Novilíngua não existe palavra para "ciência". O método empírico de raciocínio, no qual se basearam todos os desenvolvimentos científicos passados, se opõe aos princípios fundamentais do Ingsoc. E mesmo o progresso tecnológico só se verifica quando os seus produtos podem ser, de alguma forma, utilizados para limitar a liberdade humana. Em todas as artes úteis o mundo ou está parado ou retrocede. Os campos são cultivados com arados de tração animal, enquanto os livros são escritos por máquinas”.

Nesse meio de controle social está o “Duplipensar”, que corresponde ao controle da realidade por meio da constante luta do “Partido” para apagar a memória das pessoas o que não lhe interessa que se perpetue.Cada membro da sociedade aprende desde da mais tenra infância que o livre pensamento é perigoso para sí.

Também as alterações dos fatos passados (“mutabilidade do passado”), refletem o pensamento de dominação do “Partido” do “Big Brother” (Grande Irmão): “Quem controla o passado controla o futuro: quem controla o presente, controla o passado”, de forma que o “controle da realidade”, ou “duplipensar”, se tornam necessários para se conseguir a vitória sobre a memória do povo. O “Partido” engendra as suas mentiras e através dos meios de comunicação do Estado, manipula as verdades históricas.

O processo de imbecilização das pessoas é promovido pelos meios de comunicação oficiais, ou seja, estatizados, porque corrompem as tradições, os costumes, as crenças e os sentimentos mais sublimes, banalizado a tudo e confundindo a opinião pública.

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