Anos há, ao ler crónica
publicada on-line, reparei que no rodapé havia enxurrada de comentários,
que em regra, primavam pela ignorância e má fé, para não dizer: falta
de educação.
Apressei-me a escrever
parecer sobre a liberdade de expressão, frisando que o articulista, em
democracia, tinha o direito e até o dever, de exprimir livremente sua
opinião. Cabia, todavia, ao leitor, opinar de forma cortês, evitando
palavras agressivas, carregadas de ódio, demonstrativas de falta de
maturidade e respeito.
Escusado será dizer que o
comentário não foi publicado. Provavelmente consideraram-no indesejável,
por não perfilhar a opinião dominante.
Sempre lutei pela liberdade
de expressão, pois sem ela, não pode haver democracia plena. Mas esta
só subsiste, se todos, mutuamente, se respeitarem.
Insultos, remoques
grosseiros, que se escutam na rua, em manifestações, comícios e debates
políticos, são demonstrações inequívocas de a má formação cívica,
indicativo que, quem assim age, não é democrata, mas ditador camuflado
ou em gestação.
Povo que não é educado, cedo ou tarde cairá em ditadura.
Recontava, meu pai, o que ouvira a sua avó Júlia, sempre que assistia a debate político recheado de ataques ou valadas ofensas:
Estando o Dr. Pinheiro
Torres, na Bélgica, ouvira dizer que ia haver renhido “combate” entre
conhecido conservador e convicto progressista.
Perante o espanto do
jurista - habituado a confrontos de parlamentares portugueses, na
Primeira República, - o debate terminou com afectuoso aperto de mão, e
os intervenientes pareciam pedir perdão por discordarem.
Concluía, meu pai, que sua santa avó, lamentava que o mesmo não acontecesse em Portugal.
Discordar de pareceres,
sejam políticos, religiosos ou desportivos, em democracia, é direito
inalienável; por isso, cercear liberdade der expressão, a quem não pensa
como nós é prepotência inaudita.
Sempre que se intimida ou
se humilha, em termos agressivos, v.g.: mentiroso, aldrabão gatuno,
chulo e quejandos, dá-se machadadas mortíferas, destruidoras da
democracia.
O regime democrático, não é
perfeito, mas é o melhor que se conhece. Infelizmente, quando o povo
não tem educação, confirma o que bem disse Jean Jacques Rousseau: Um
governo tão perfeito, não convém aos homens, mas a deuses. - “ Contrato
Social”- Cap. lV
É bem verdade, quando se diz, que cada povo tem o regime e o governo que merece.
HUMBERTO PINHO DA SILVA - Porto, Portugal
publicado por solpaz às 11:30
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