segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A esquerda se vende por pouco


Por Marcelo Delfino
mjdelfino@yahoo.com.br

   

 

Os militantes de esquerda precisam ser mais claros no que dizem, se não estiverem interessados na dissimulação. Depois que enterraram o demo-tucanato nas eleições nacionais, a esquerda brasileira (lulo-dilmista, PSOLista ou extremista) tem agora como objetivo enterrar o que consideram ser a última trincheira da direita brasileira: a mídia golpista que sabe ser governista na hora e no local que convém.


Tudo isso vem à cabeça depois de bom texto do blogue parceiro Mingau de Aço, de Alexandre Figueiredo, parceiro a despeito das evidentes diferenças ideológicas. Texto que acaba assim:


E, dessa forma, o país necessita de uma regulação midiática ampla e corajosa, que não signifique tão somente a domação de jornalistas políticos reacionários. Até porque a "urubologia" envolve não somente comentaristas políticos ranzinzas, mas também "musas" calipígias temperamentais, ídolos cafonas posando de "vítimas de preconceito" e noticiários popularescos baseados no sensacionalismo mais grosseiro.

Gostaria de dizer que a regulação dos meios de comunicação deve ser comandada pelos usuários: leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Sem participação desses cretinos governos que vocês de esquerda elegem, ainda que vocês deem pití dizendo que o governo federal de vocês virou governo de direita, como um pai que não reconhece a paternidade do filho. Eu acompanho os meios de comunicação, e cheguei a criar o Tributo ao Rádio do Rio de Janeiro para, entre outras coisas, tratar da pobreza do dial carioca e comentar sobre as rádios que colocam uma péssima programação no ar, com os radiodifusores debochando da inteligência dos ouvintes (ou da falta dela). Posso escrever de camarote sobre a necessidade de regularizar a situação da mídia de massa.


O amigo Alexandre Figueiredo não é cúmplice de alguns esquerdistas que querem censurar jornalistas políticos reacionários. Se é isso mesmo, parabéns pro Alexandre. Se não é isso, lamento muito por você, Alexandre. Se pretendemos que este país seja democrático (o que veio depois do regime militar pode ser chamado de tudo, menos democracia), todos tem que ter vez e todos tem que ter voz. Mas parece que a esquerda quer substituir o pensamento único neoliberal, plutocrático ou anarcocapitalista pelo pensamento único de esquerda. Substituir Reinaldo Azevedo por Mino Carta, substituir Joelmir Beting por Luís Nassif, substituir o clã Marinho por Paulo Henrique Amorim, substituir Caetano Veloso por Chico Buarque e assim por diante. O ideal é que nós tenhamos na mídia o Reinaldo E o Mino Carta, o Joelmir E o Nassif, os Marinho E o homem da Conversa Afiada, o Caetano E o Chico, e a participação dos leitores, ouvintes, telespectadores, internautas e de todas as correntes de pensamento da sociedade. Podemos até termos grupos com linha editorial reacionária, mas os não reaças também terão espaço neles. Poderão escrever merda reaça, mas terão resposta lá mesmo. Ainda estamos longe de ter a possibilidade de um Murdoch da vida prestar conta de seus atos. Ou de os grupos midiáticos deseditorializarem suas coberturas e reportagens, deixando seus posicionamentos para os editoriais e artigos.


Mas parece que a esquerda se vende por pouco. Ficaram muito felizes quando a dupla Zezé di Camargo & Luciano embarcou na eleição de Lula em 2002. Dupla que deve ter se arrependido, depois que o próprio Lula viu 2 Filhos de Francisco através de DVD pirata no avião presidencial. Bem feito pros dois. A esquerda (fora alguns dissidentes) também ficou muito feliz com a união dos barões do fânqui carioca com seu factóide carioca Marcelo Freixo. Aquele que tem seu alter-ego Diogo Fraga como protagonista oculto do Tropa de Elite 2, aquele filme da Globo Filmes e de Rodrigo Pimentel, líder do Governo Sérgio Cabral Filho na Rede Globo. Quem sabe assim a esquerda obtenha os votos da massa fanqueira para Freixo em 2012 e para o candidato ou candidata do Filho Bastardo do Brasil em 2014. A esquerda lulo-dilmista adora classificar a Veja de golpista, mas isso não passa de frescura e pití da parte deles. Fazem elogios à Veja quando ela dá capa elogiosa à presidenta incompetenta. Apenas uma minoria da minoria da minoria reclama que a Veja está bajulando-os ou cooptando-os. E mesmo assim essa minoria da minoria da minoria age de maneira tão infantil quanto a esquerda governista que celebra as capas governistas da Veja.


O amigo Alexandre Figueiredo já deu o aviso: se a esquerda continuar se aliando com essa corja da direita política e cultural, acabará apunhalada nas costas. Eu não terei pena de vocês. Quando a população brasileira adotar alguma coisa melhor ou devolver o poder à direita puro-sangue (não essa direita fisiológica lulo-dilmista), vão chorar na cama que é lugar quente. Não me venham encher o saco.

domingo, 2 de setembro de 2012

Marcelo Delfino


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