No próximo dia 5 de outubro o Brasil efetuará a
oitava eleição presidencial, após a assim chamada redemocratização. Eleição
que, tudo parece indicar, só no segundo turno, a realizar-se três semanas
depois, definirá o futuro ocupante do Palácio do Planalto.
O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira,
com o presente comunicado, não pretende imiscuir-se nas disputas partidárias
que, em nosso País, são marcadas, de modo preponderante, por divergências de
interesse de personalidades ou de clãs políticos, mais do que por desacordos de
elevado nível doutrinário.
Entretanto, a presente eleição presidencial traz
em seu bojo questões ideológicas inquietantes, muitas vezes afastadas da
atenção do público por debates irrelevantes. Sendo diversas dessas questões de
vital importância para a Igreja e para a civilização cristã, é compreensível
que suscitem indagações no espírito de muitos católicos, sobretudo quando
percebem seus valores ameaçados. Acresce-se a isso que tais questões
ideológicas estão muitas vezes impregnadas do pensamento doutrinário, da
atuação política e da agitação social da “esquerda católica”.
Por tais motivos, pareceu conveniente ao Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira – entidade civil, composta de leigos
católicos (1) – apresentar aqui uma série de reflexões destinadas antes de tudo
a seus dedicados simpatizantes, mas também aos católicos e aos eleitores em
geral. Reflexões que submete igualmente à atenção dos políticos e dos
candidatos engajados no atual pleito.
1. Quadro político e eleitoral conturbado
O presente pleito eleitoral insere-se num quadro
político bastante instável e confuso.
Um crescente descontentamento com os rumos dados
ao País pelo governo da Presidente Dilma Rousseff levaram, nestes últimos
meses, a inequívocas manifestações públicas de desagrado em relação ao Partido
dos Trabalhadores (PT) e à própria figura da Presidente.
Em junho do ano passado, grandes manifestações
realizadas por todo o País tinham feito soar o alarme. Mas o governo preferiu
ignorar e até distorcer o sentido profundo das mesmas, ensaiando a convocação
de uma Assembleia Constituinte específica que lançasse o País numa obscura
reforma política.
Enquanto isso, o Brasil era assombrado por
denúncias, cada vez mais arrepiantes, de bilionários esquemas de corrupção,
instaurados no coração do Estado e visando a consecução de um projeto de poder,
com laivos acentuados de totalitarismo.
Desde então, alastraram-se os fatores de
incompreensão e de indignação, nas camadas profundas da população, e foi
crescendo o desejo de obter nas eleições o afastamento do PT do poder.
* * *
Foi nesse ambiente sócio-político conturbado que
se delineou o presente pleito eleitoral. Para ele muitos se voltavam com um
misto de esperança e de desconfiança. Esperança de uma real mudança de rumos em
relação à marcha desagregadora empreendida pelo governo; e desconfiança de que
a presente disputa eleitoral nada mais fosse do que uma repetição de outras
eleições, em que os debates sérios a respeito dos rumos do País estiveram
ausentes.
A campanha eleitoral dava seus passos iniciais,
quando a morte do candidato do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo
Campos, no brutal e ainda não inteiramente esclarecido acidente aéreo que o
vitimou, junto com outras seis pessoas, aportou novo fator de conturbação ao
quadro político.
As mudanças abruptas na corrida presidencial, em
decorrência de tal acidente, só tornaram mais aguda a distorção que atinge
habitualmente as disputas eleitorais no País, máxime para o cargo de Supremo
Mandatário da Nação.
2. O mundo político erra o alvo de sua pontaria
publicitária
Plinio Corrêa de Oliveira, o intrépido líder
católico, cujo pensamento e métodos de ação inspiram o Instituto que leva seu
nome, sempre alertou – em inúmeras análises da realidade nacional, seja em
artigos para a grande imprensa, seja em manifestos ou em livros de ampla
divulgação – para o desacerto gravíssimo entre importantes setores do mundo
político e a parte mais preponderante e sadia de nossa opinião pública.
Segundo ele, um equívoco, manuseado por políticos
verdadeiramente esquerdistas, por certo capitalismo publicitário, por clérigos
progressistas e favorecido ainda por hábeis táticas de propaganda, fez crer a
muitos dos que atuam em nossa vida pública que a opinião pública brasileira
constitui um imenso caudal a caminhar gradualmente para a extrema-esquerda.
Por tal motivo, para a maioria dos políticos
a-ideológicos, a corrida para a esquerda tornou-se sinônimo de corrida para uma
popularidade triunfal. Imaginam eles que, quanto mais se colorirem de tintas
esquerdistas, tanto mais ganharão terreno na simpatia popular.
Movidos por tal ilusão, até mesmo políticos
convictamente centristas (ou até um ou outro direitista) relegaram ao abandono
todo o potencial político de que disporiam, caso se opusessem com firmeza à
esquerdização dissolvente que vai arruinando o País.
Assim, a parte mais substancial do mundo
político pôs sua mira na esquerda, errando o alvo de sua pontaria publicitária
que deveria estar no centro, de si conservador. Um centro conservador não
adepto de um imobilismo total, mas favorável à manutenção de uma determinada
ordem de coisas.
Como também observava Plinio Corrêa de Oliveira,
na vida humana – considerada no plano individual como no político – nada é
absolutamente estável. Tudo o que vive se move, e por isso nesse grande centro
conservador se encontram tendências ora para a direita, ora para a esquerda,
tendências essas que, entretanto, não cindem tal imenso bloco majoritário e não
o deslocam de sua postura fundamentalmente centrista.
Convém ainda precisar que tal fenômeno de
conservantismo brasileiro possui notas mais acentuadamente psicológicas do que
ideológicas. É generalizada nele a persuasão de que, diante de um mundo cheio
de incertezas e de crises, quaisquer solavancos, reformas ou aventuras poderão
ser fatais. E todos nele anseiam, ao contrário, por segurança e estabilidade.
3. Grave distorção: candidatos majoritariamente de
esquerda
Como fruto desse desacerto fundamental entre o
mundo político e a parte preponderante da opinião pública, o País vive, a cada
eleição, um angustiante paradoxo: quase todas as candidaturas de peso tendem
para a esquerda (mais ou menos radical) e a imensa maioria da população,
centrista e conservadora, não encontra representante de projeção que com ela se
identifique.
Tal distorção faz com que muitos não encontrem
espaço para expressar as reflexões ansiosas de se comunicarem, os ideais, as
sugestões políticas, sociais e econômicas que acalentam no fundo da alma.
Abafados assim em suas legítimas aspirações, sem candidatos que as vocalizem e
compelidos, por outro lado, pela obrigatoriedade do voto, muitos destes nossos
compatriotas buscam uma válvula de escape, algum candidato que possa parecer
uma contestação a esse sistema. Isso torna a escolha eleitoral um exercício
altamente volúvel, imprevisível, marcado pela impulsividade, pelas reações
temperamentais, por uma certa torcida, às quais, na maioria das vezes, estão
alheios a observação, a reflexão e o planejamento da ação.
Some-se a esse quadro geral, o fator específico
da alta dramaticidade da morte do candidato Eduardo Campos e facilmente se
entenderá a presente corrida eleitoral. Uma disputa necessariamente conturbada,
marcada muito fortemente por uma nota emotiva, por reações impulsivas, em que o
debate sério de temas profundos e de programas de governo (2) foi trocado pelos
ataques rasteiros, pelas mentiras deslavadas, pelos truques de propaganda (3).
4. A esquerda no poder se isola, diante de um público
que caminha do desagrado para o ressentimento
A explanação acima ajuda a entender a
encruzilhada política que vive o Brasil a poucos dias do primeiro turno da
eleição presidencial.
Nestes últimos doze anos, o Partido dos
Trabalhadores (PT) alcançou êxitos eleitorais em boa medida ilusórios. Suas
conquistas foram, em ponderável medida, fruto de um eleitorado que acabou por
votar na esquerda sem ter uma mentalidade autenticamente progressista ou
esquerdista. A isto era ele condicionado por diversos fatores – publicitários,
de vantagens e benesses sociais, de pregações religiosas, de calculismo, e até
pela ausência de uma mais ampla gama ideológica de candidatos.
Entretanto, os estrategistas da esquerda
imaginaram que o êxito de seus jogos publicitários equivalia a um ganho de
terreno na opinião pública. Não souberam entender que, ainda que vencido pelo
bloqueio de atenção e pela pressão sobre sua capacidade de análise, fruto das
mais eficazes técnicas de propaganda, o “homem da rua” não se deixou
propriamente convencer. Certa simpatia despreocupada que o levou a votar na
esquerda, não era isenta de uma nota de desconfiança.
Dando, pois, aos êxitos eleitorais o alcance que
eles não tinham, o PT, apesar de inicialmente ter evitado intervir na economia,
se açodou na implementação de sua agenda sócio-política e deu livre curso a
seus métodos de ação, tantas vezes autoritários.
Cada dia mais, o PT foi-se mostrando ácido
diante das críticas, alimentando o clima odioso do “nós contra eles”. O
aparelhamento do Estado; as políticas públicas anti-“discriminatórias”, que
deslancharam tensões sociais, antes inexistentes no País; o favorecimento de
“movimentos sociais” desrespeitadores da propriedade privada e do Estado de
Direito; as propostas de controle da imprensa; o aumento de intervenção estatal
na economia; as relações internacionais submissas a interesses ideológicos
espúrios; o crescimento abrupto de escândalos de corrupção, etc., tudo isso foi
fazendo o Brasil se sentir, pouco a pouco, ludibriado em seus anseios de uma
ordem distendida e pacata.
A esquerda no governo foi caindo no isolamento,
diante de um público inicialmente desagradado embora silencioso, depois
agastado e, por fim, ressentido e furioso.
Seria por demais exaustivo analisar aqui a
gênese dos protestos de junho do ano passado, mas é fato que os mesmos acabaram
por se transformar em um imenso transbordar deste descontentamento público,
para o qual convergiram insatisfações regionais e nacionais, políticas,
sociais, econômicas, culturais, o que deu a tais manifestações um aspecto
multifacetado.
Encerrado em sua própria utopia, o governo
petista tentou ainda escamotear o sentido de tais protestos e radicalizar seu
projeto de poder.
Embora as grandes manifestações tenham
naturalmente refluído, o descontentamento com o PT e seu modo de governar foi
se multiplicando e dando sinais vivos por toda a parte do território nacional e
em todos os segmentos da sociedade.
Chegou-se, assim, à presente disputa eleitoral
em que, para muitos, o intuito primordial de uma renovação política era
afastar, pelo voto, o PT do poder.
5. Projetos políticos semelhantes
Subitamente um evento de notas trágicas
convulsionou a atmosfera política.
A forte carga emocional de uma família, jovem e
numerosa, dilacerada por um trágico desparecimento, juntamente com pesquisas
que apontavam uma disparada acentuada nas intenções de voto em Marina Silva,
fizeram entrever, num desses rompantes típicos de nossa agilidade de espírito,
que a candidatura desta última poderia ser a “bala de prata no coração do
lulopetismo”, para usar a expressão de um matutino paulista (4).
Some-se a isso certa nota messiânica, certo
utopismo de quimeras suaves ou brilhantes, envolta em linguagem fantasiosa e
sedutora, que cria a impressão, ou a ilusão, da possibilidade de uma outra
política, distante dos conchavos pouco coerentes e das iniciativas políticas
tantas vezes enlameadas e corruptas do atual panorama, e se compreenderá o atual
quadro de preferência de voto (5).
Mas, se bem analisada a situação, o País parece
encaminhar-se para uma disputa entre dois projetos políticos esquerdistas (6),
não tão diferentes entre si e, mais grave ainda, que radicalizarão os ânimos e
criarão inevitavelmente fissuras no corpo social.
6. Decreto dos Conselhos Populares
Essa radicalização virá, antes de tudo, em
decorrência do Decreto presidencial 8243, o qual constitui – como o Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira teve oportunidade de alertar (7) – um
gravíssimo ataque às instituições vigentes, no que pode ser qualificada de uma
tentativa de golpe de Estado incruento.
Devido a manobras legislativas, articuladas pelo
Governo Federal, a Câmara não conseguiu derrubar tal Decreto, já comparado a um
decreto bolivariano ou bolchevique, que torna obsoletas as instituições do
Estado de Direito, criando organismos informais através dos quais minorias
militantes condicionarão a sociedade e o governo.
Tal decreto será, sem dúvida, uma das chaves do
próximo mandato presidencial e as duas candidatas, que ora ocupam a liderança
das pesquisas, vêem nele a oportunidade de um “aperfeiçoamento” da democracia,
rumo a uma “democracia popular” tão ao gosto dos sistemas totalitários
socialistas.
Agrava-se essa perspectiva quando se considera
que a própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em seu documento
nº 91, “Por uma reforma do Estado, com participação democrática”, endossa a
criação de estruturas de participação popular, questiona a democracia representativa
e propõe uma nova forma de viver a democracia, tudo em sintonia com o decreto
presidencial 8243.
7. Reforma Agrária
Volta de novo ao debate a idéia de incrementar a
Reforma Agrária, a velha utopia de esquerda, que ao longo de décadas tem
debilitado o direito de propriedade, criando em milhões de hectares de nosso
território verdadeiras “favelas rurais” ou unidades mais ou menos
coletivizadas, as quais dependem, para sobreviver, das “esmolas”
governamentais.
Alguns querem privilegiar a chamada “agricultura
familiar” (um termo dúbio e habilmente manipulado) em detrimento do
agronegócio, em franco progresso nos seus aspectos essenciais, de sorte a
constituir hoje a coluna-mestra, e a salvaguarda honrada e forte da economia
nacional.
Volta igualmente ao debate eleitoral o fantasma
dos índices de produtividade rural. Reconhecidamente não existem, no Brasil,
propriedades rurais particulares improdutivas. Aventar-se a revisão dos índices
de produtividade só pode fazer crescer a insegurança jurídica no campo, com a
consequente volta de invasões e do arbítrio.
Radicalizar o caminho agro-reformista – além de
violar o direito de propriedade, consagrado em dois Mandamentos da Lei de Deus
– gerará mais conflitos e injustiças no campo, contra aqueles que
incansavelmente labutam pacificamente em toda a imensidão de nosso território.
Tais propósitos só podem gerar susto e apreensão.
8. Reforma Urbana
Enquanto desordens de todo o tipo se têm
propagado pelo Brasil, como uma erisipela, é fácil perceber que certos
mecanismos de agitação e ação política passaram a assestar seu foco sobre os
grandes conglomerados urbanos, para aí promoverem movimentos
desestabilizadores.
A Reforma Urbana, quiçá ainda mais
tempestuosamente esquerdista do que a Reforma Agrária, constitui mais um
fantasma acabrunhador a perturbar as horas de trabalho, de lazer e de sono de
todos quantos no Brasil possuem imóveis.
Salta aos olhos o contraste entre a ameaça que
pesa sobre os cidadãos prestantes que habitam nosso solo urbano, ameaçados de
sofrer uma sumária e despótica perseguição legal, e a impressionante liberdade
de que gozam os agitadores camuflados pela demagógica qualificação de
"sem-teto", recebidos por autoridades após praticarem seus atos
ilegais de desrespeito à propriedade.
Ora, também aqui e acolá na disputa eleitoral
parece entrever-se o desígnio da intervenção estatal urbana, sob o pretexto de
desenvolver cidades saudáveis, democráticas e seguras. A ameaça à propriedade
urbana e as tentativas de forçar despoticamente mudanças nos hábitos
comportamentais dos cidadãos parecem entrar na mira de um próximo mandato
presidencial.
9. Reservas indígenas e terras quilombolas
Os projetos políticos em pauta contemplam um
incentivo à desastrosa – e muitas vezes ignominiosa – política indigenista.
Bafejada por uma corrente ideológica de clérigos
e leigos, ligados à Teologia da Libertação, tal política indigenista é crítica
da obra colonizadora dos portugueses bem como da influência civilizadora dos
missionários, a exemplo da exercida por São José de Anchieta.
Em vez de estimular a mútua compreensão cristã,
que consolide cada vez mais a unidade brasileira, o indigenismo suscita
incompreensões, rivalidades e atritos, contrários à miscigenação e ao caráter
cristão e cordato de nosso povo.
A política de demarcação de terras indígenas
tornou-se indiscriminada, abusiva e baseada numa concepção hipertrofiada dos
direitos dos índios. Alguns deles, tantas vezes manipulados por propagandas
eficazes e por agitadores políticos ou religiosos, acabam por se engajar em
invasões de terras e agressões à propriedade privada, gerando insegurança e
fomentando rancores raciais tão alheios à índole do brasileiro.
Cabe ressaltar, que as leis e os projetos
políticos em discussão nesta eleição, tão ciosos de impor índices de
produtividade aos proprietários rurais, concedem aos índios áreas
verdadeiramente latifundiárias, que permanecem inaproveitadas, não cumprindo a
tão decantada função social.
Mas a continuação de uma política de demarcação
de reservas indígenas parece apontar agora para uma nova perspectiva: a da
autonomia de tais reservas. Seria assim reconhecida, aos vários grupos
indígenas, uma como que soberania face ao Estado, o que de si caminha para o
esfacelamento da unidade e da soberania nacionais.
Como não perceber que a perspectiva de, na
prática, ver dilacerada nossa soberania, e atingida essa imensa unidade
territorial de que sentimos orgulho, é de molde a agredir a ufania de ser
brasileiro que de tantos modos se manifesta, até mesmo em eventos públicos de
grande repercussão?
O que aqui fica dito sobre a política
indigenista, poderia ser afirmado, de modo similar, a respeito da política de
demarcação das terras quilombolas.
10. Aborto
Mais uma vez não há clareza, nem determinação
nas propostas políticas de defesa da vida. A consagração da prática do aborto
pela legislação – tema candente para milhões de brasileiros e, especificamente,
para os católicos – é quase completamente silenciado nos debates eleitorais. Os
eleitores podem recear que esse silêncio seja prenúncio, após as eleições, por
parte das candidatas que agora lideram as pesquisas, de medidas e propostas que
agridam o sentir comum de nossa população, e se choquem com os valores cristãos
da grande maioria da mesma.
11. “Casamento” homossexual
Em rota de colisão com os sentimentos e
convicções das sociedades constituídas sob o bafejo dos ensinamentos do
Evangelho, os ativistas do movimento homossexual tentam consagrar socialmente a
prática do homossexualismo, apesar de flagrantemente oposta à Lei natural e à
moral revelada.
Segundo afirmam os líderes desses movimentos,
está em curso, sobretudo nas sociedades ocidentais e cristãs, uma verdadeira
revolução moral e religiosa, oposta ao próprio cristianismo. Ela se traduz,
entre outras coisas, na legalização do chamado “casamento” homossexual.
Sendo o casamento reconhecido – ao longo da
História e em todas as civilizações – como o vínculo permanente que une um
homem e uma mulher, com o objetivo comum de gerar uma prole e constituir
família, não tem sentido falar-se de “casamento” homossexual.
Não obstante, em nome dos plenos direitos da
cidadania, levanta-se outra vez o tema da aprovação do “casamento” homossexual
em nosso País, em afronta aos sentimentos e convicções cristãs da forte maioria
da sociedade (8).
12. Criminalização da “homofobia”
Em sua auto-proclamada revolução moral e
religiosa, os ativistas do movimento homossexual, utilizam o termo “homofobia”
para tachar, de modo depreciativo, todos aqueles que se manifestam, com
argumentos racionais, científicos ou religiosos, às práticas do
homossexualismo.
Mas os militantes desta revolução vão mais longe
e pretendem criminalizar todos os que se opõem a sua agenda, por exemplo em
nome da Lei natural e dos Dez Mandamentos.
Assim, já tramita no País um projeto de
criminalização da homofobia, o qual tem sofrido forte rechaço da sociedade. Mas
o tema de novo vem à baila nesta campanha eleitoral. Quem não percebe que tal
proposta abriria as portas para a perseguição de caráter religioso e para os
chamados crimes de opinião?
13. A estranha omissão da CNBB
Face aos rumos para os quais aponta tal quadro
eleitoral, é compreensível a perplexidade dos católicos – e de tantos outros
que não o sendo reconhecem o papel fundamental da Igreja – ante a quase
completa omissão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Era natural que esse organismo episcopal fizesse
sentir a influência sobrenatural da Santa Igreja, pela pregação da verdade
evangélica, para o bem espiritual, intelectual e moral daqueles que a ela se
abrem. Mas, infelizmente, a CNBB vem relegando para segundo plano uma série de
temas de primordial importância religiosa e moral no que diz respeito ao bem
comum espiritual e temporal do Brasil; e vem tentando modelar a opinião pública
a seu gosto em determinados problemas políticos e sócio-econômicos, em
incursões em matéria especificamente temporal, revestidas, por vezes, de uma
agressividade voltada para a agitação.
14. O Brasil mediano, o Brasil sensato, o Brasil
autêntico anseia por estabilidade e paz
É difícil governar um povo com base numa
miragem! Ou seja, criando a ilusão da existência de um espírito progressista –
ou esquerdista – nas camadas profundas da população, onde ele, na verdade, não
existe. É igualmente difícil governar um povo cordato cortejando minorias
muitas vezes radicais.
Se o mundo político não vencer a magia dos
velhos mitos e insistir num reformismo festivo, rumo a um esquerdismo cada vez
mais radical (baseado em vitórias eleitorais ilusórias), serão cada vez mais
raros no público aqueles que os acompanharão.
Nesse caso, qualquer candidato que vier a ocupar
o Palácio do Planalto dificilmente escapará ao vácuo terrível do qual o mundo
político, já hoje, está custando a escapar.
* * *
A encruzilhada que o País vive neste momento,
cabe em boa medida aos nossos homens públicos resolvê-la. Continuarão eles a
deixar sem voz e sem vez uma grande maioria centrista e conservadora, não
atuando como resolutos mandatários da mesma? Continuarão a privilegiar
sentimentos progressistas ou esquerdistas fictícios?
Diante dos múltiplos fatores desestabilizadores
que marcam nossa atual conjuntura, em que é contínuo o esforço de certas
minorias para suscitar confrontos e dissensões sociais, ao estilo da velha luta
de classes, o Brasil mediano, o Brasil sensato, o Brasil autêntico anseia por
serenidade, por estabilidade e por paz.
Este Brasil que recusa aventuras e rupturas
sócio-políticas, necessitaria de uma candidatura viável que soubesse vocalizar
suas aspirações e se comprometesse
* a ser a alternativa clara e firme ao governo
do PT;
* a fazer cessar as imensas máquinas de
corrupção;
* a tornar a administração pública credível;
* a cicatrizar as chagas do jogo político-social
do “nós contra eles”;
* a não introduzir qualquer legislação que venha
a permitir o aborto;
* a não modificar a ordenação legal da família,
mantendo o matrimônio como união estável entre homem e mulher;
* a não impor a educação estatal às crianças e a
garantir o direito da família de educar seus filhos;
* a não aprovar programas e reformas
educacionais que implantem a anti-natural “ideologia de gênero”;
* a fazer cessar as agitações e reformas que
ameaçam a propriedade urbana;
* a fazer cessar as múltiplas ameaças contra a
propriedade no campo e a dar estabilidade aos produtores rurais, verdadeiro
esteio de nossa economia;
* a rever a chamada política indigenista e a
repensar e reformular as demarcações de reservas indígenas e de terras
quilombolas;
* a livrar a economia do dirigismo estatal, a
favorecer a iniciativa privada, a diminuir a onerosa carga tributária.
* * *
O Instituto Plinio Corrêa de Oliveira apresenta
aqui estas reflexões, como contributo ao que está persuadido serem os mais
altos interesses do Brasil e da civilização cristã na presente conjuntura,
depositando seu esforço aos pés de Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira
de nossa Nação.
São Paulo, 24 de setembro de 2014
Festa de Nossa Senhora das Mercês
Adolpho Lindenberg
Presidente do Instituto Plinio Corrêa de
Oliveira
========== Notas =========
(1) O Instituto Plinio Corrêa de
Oliveira (IPCO) não representa a Sagrada Hierarquia, não foi
fundado por ela, nem por ela é dirigido. Nossa entidade foi fundada e é
dirigida por leigos católicos que, inspirados nos ensinamentos da doutrina
social tradicional da Igreja, visa tão só atuar no campo temporal, em favor da
civilização cristã, sob a exclusiva responsabilidade de seus integrantes. Sem
embargo, ela se sujeita, com filial obediência, à vigilância da Sagrada
Hierarquia em tudo quanto diz respeito à Fé, à Moral e à disciplina
eclesiástica (cfr. Código de Direito Canônico, cânones 212 §1, 215, 225 §2,
227).
(2) Sobre a indefinição de programas dos
candidatos, o jornal “Valor”, de 16 de setembro, destacou que o PSB prepara a
revisão de programa para 2º turno: “Com vistas a um provável segundo turno, a
campanha da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, já prepara mudanças
no plano de governo, com um detalhamento maior de propostas” (PSB prepara a
revisão de programa para 2º turno).
A candidata Marina Silva já havia realizado
diversas erratas em relação ao programa entregue à Justiça Eleitoral.
A “Folha de S. Paulo”, por sua vez, destaca em
editorial, do dia 19 de setembro, a respeito dos outros candidatos: “O senador
[Aécio Neves] ainda promete finalizar seu programa de governo, mas até hoje,
faltando 16 dias para a votação, não avançou além das diretrizes gerais que
todo candidato deve, por lei, protocolar ao registrar sua postulação. (...)
“Desconfortável mesmo deveria estar a presidente
Dilma Rousseff (PT), que teve atitude bastante distinta. Diante das
divergências entre o que defende seu partido e o que pretende seu governo, a
mandatária considerou oportuno suspender a divulgação de seu programa. (...)
“Ao eleitor, por óbvio, essa lógica mesquinha de
nada serve. Como saber de que maneira Dilma planeja se comportar num eventual
segundo mandato se nem aceita assumir compromissos formais?” (Descaso
programático).
(3) A este respeito são elucidativas as palavras
de Antonio Delfim Netto: “O evidente mau uso dos recursos dissipados na
propaganda eleitoral `gratuita´ (paga pela sociedade desapercebida) que em
lugar de educar o cidadão, deseduca-o em matérias cuja boa compreensão é
fundamental para o voto consequente. Exacerba o voluntarismo como solução para
nossos graves problemas” (Limite inferior, “Folha de S. Paulo”, 17 de
setembro de 2014).
Carlos Heitor Cony ressalta igualmente o vazio
da disputa eleitoral: “Finalmente, o clima eleitoral esquentou. Esquentou até
demais. A entrada de Marina botou fogo numa disputa que ameaçava a tepidez
(...). Mesmo assim, a disputa nem chega a ser política, mas quase esportiva, o
eterno flá-flu, o maniqueísmo em sua forma radical. Dilma e Marina baixaram o
nível da campanha” (Flá-flu eleitoral, “Folha de S. Paulo”, 16 de
setembro de 2014).
(4) O “Estado de S. Paulo”, em Notas &
Informações: “É cada vez menor o número dos que duvidam hoje da derrota de
Dilma Rousseff nas urnas de outubro. Mas a probabilidade da vitória de Marina
Silva poderá resultar em enorme decepção para quem acredita que o voto na
ex-senadora é o melhor caminho para livrar o País do lulopetismo. Esta é a
conclusão a que têm chegado, nos círculos políticos de Brasília, petistas e não
petistas com algum acesso a Lula, a partir da análise de seu comportamento
diante de um quadro eleitoral que era impensável pouco tempo atrás. (...)
“Lula, portanto, parou para pensar em si mesmo,
entregar os anéis para salvar os dedos e se concentrar em 2018, quando ele
próprio poderá tentar, com o prestígio popular que lhe tiver restado, uma volta
triunfal ao Palácio do Planalto. E, pelo que dizem ser seus cálculos, a eleição
de Marina Silva agora pode ser mais útil a esse objetivo do que a reeleição de
Dilma. (...)
“A ser isso verdade, votar em Marina com a
intenção de cravar uma bala de prata no coração do lulopetismo seria comprar
gato por lebre” (As coisas podem não ser o que parecem, 7 de
setembro de 2104).
(5) Em editorial, a revista “Isto É” aponta:
“[Marina Silva] sem definir propostas ou detalhar planos, surfa na conveniência
do discurso generalista que soa simpático às massas, mas que peca na
consistência e no leque de alternativas concretas para colocar o País de volta
aos trilhos” (O que é a `Nova Política´?, 3 de setembro de 2014).
Por seu turno, Renato Janine Ribeiro, afirma no
jornal “Valor”: “Se a terceira candidata [Marina Silva] adquiriu, tão
rapidamente, tantas intenções de voto, sobretudo entre os que eram indecisos, é
mais pelo desencanto com os dois grandes partidos do que pelo conteúdo de suas
propostas” (Quem ganhar perderá, 20, 21 e 22 de setembro de 2014).
(6) Tomamos aqui o termo "esquerdista"
não apenas como um conjunto de reformas sócio-econômicas visando estabelecer, a
prazo curto ou médio, a inteira igualdade entre os homens, mas também tudo
quanto corrói, corrompe ou dissolve a moral cristã, fundamento da civilização
ocidental. Todas as leis que favorecem o permissivismo omnímodo de nossos dias
pode e deve ser tido como genuína expressão da mentalidade e da doutrina
esquerdista (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, O descontentamento da
direita e do centro, "Folha de S. Paulo", 21 de julho de 1978).
(7) Cfr. Comunicado do Instituto
Plinio Corrêa de Oliveira, Importante passo rumo ao modelo
venezuelano, 22 de junho de 2014.
(8) Não deixa de ser
significativo deste rechaço o ocorrido quando da apresentação do programa de
governo da candidata Marina Silva: “Pressionada pelo pastor evangélico Silas
Malafaia, a chapa de Marina retirou o apoio à criminalização da homofobia e ao
casamento gay do programa de governo apresentado 24 horas antes. Marina alegou
que a inclusão do texto havia sido um equívoco de sua equipe, mas o estrago,
sobretudo nas redes sociais, a essa altura já estava feito” (Marina sob fogo
cerrado, Mariana Barros e Malu Gaspar, “Veja”, 10 de setembro de
2014).
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